In "Jornal de Negócios":
Entre Dezembro de 2007 e Abril de 2008 os preços do arroz nos mercados internacionais dispararam 76%, segundo o índice da FAO para o cereal. A organização da ONU para a agricultura e alimentação disse hoje que a produção mundial vai aumentar, mas os preços continuarão altos até, pelos menos, o terceiro trimestre de 2008.
Em comunicado hoje divulgado, a FAO – Food and Agriculture Organization, instituição da Organização das Nações Unidas (ONU), defende que os preços internacionais deverão "manter-se a níveis relativamente altos", enquanto prevê que os ‘stocks’ dos exportadores devam sofrer uma redução drástica.
"Para que os preços caiam, condições climatéricas favoráveis deverão prevalecer nos próximos meses e os governos deverão aliviar as restrições sobre as exportações", escreve a FAO. "Mesmo assim, é improvável que os preços do arroz regressem aos níveis de 2007, já que os produtores têm de pagar muito mais pelos fertilizantes, pesticidas e combustível".
O problema não é a produção, diz a FAO, que este ano até deve aumentar e atingir mesmo níveis recorde na Ásia, África e América Latina. A produção de arroz "poderá aumentar em cerca de 2,3% e atingir um novo recorde de 666 milhões de toneladas", segundo a previsão inicial da organização, hoje anunciada por Concepcion Calpe, especialista naquele cereal, citada no comunicado.
A produção mundial até poderá ser mais elevada "se apelos e incentivos recentes para aumentar a actividade levar a áreas de cultura maiores". A previsão da FAO é que na Ásia, a produção ultrapasse o "benchmark" de 600 milhões de toneladas, para atingir os 605 milhões de toneladas. Em África, o aumento deverá ser de 3,6%, para 23,2 milhões de toneladas em 2008. E na América Latina e Caraíbas, a progressão deverá ser de 7,4%, para 26,2 milhões de toneladas em 2008. As "perspectivas de produção, contudo, são negativas para a Austrália, os EUA e a Europa".
Os problemas, que deverão manter os preços do arroz altos durante mais dois trimestres, é que, por um lado, as colheitas de arroz da campanha deste ano já só serão feitas no final de 2008. E, por outro lado, a situação em Myanmar (antiga Birmânia) veio piorar a situação.
O efeito "Myanmar"
Segundo a FAO o ciclone que abalou recentemente Myanmar "pode piorar a previsão actual de produção mundial de arroz". O ciclone atingiu o país quando os agricultores estavam a apanhar a colheita da época seca, que vale cerca de 20% da produção anual. Agora estão áreas inteiras de produção de arroz estão inundadas e vários armazéns e reservas do cereal estão destruídas. Na capital, em Rangoon, os preços do arroz já aumentaram 50%.
O que quer dizer, explica a organização agrícola e alimentar da ONU, que Myanmar irá voltar-se agora para os seus países vizinhos, como a Tailândia e o Vietname para importar arroz. O que irá pressionar ainda mais os preços mundiais do cereal.
Apenas três exportadores sem restrições
Actualmente, apenas a Tailândia, o Paquistão e os Estados Unidos da América (EUA), entre os grandes vendedores mundiais, estão a exportar arroz sem restrições.
Numa tentativa de evitar a escassez de alimentação no seu próprio território, muitos exportadores de arroz têm imposto interdições, impostos o tectos à saída do cereal para outros países.
Há ainda outras restrições, "adormecidas" durante duas décadas, que a FAO acredita que foram agora enfatizadas: investimento reduzido na agricultura, especialmente na questão do regadio, financiamento baixo na investigação e desenvolvimento agrícola, problemas ambientais, produção estagnada e migração de áreas rurais para as cidades.
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