terça-feira, 9 de novembro de 2010

Portugal no 5.º lugar do top 10 mundial da probabilidade de risco de 'default' (incumprimento da dívida soberana), com 33,8%

In "Expresso.pt":

Como já indicava a evolução do risco de default (incumprimento da dívida soberana) ontem no fecho, Portugal subiu, hoje, pela manhã, ao 5.º lugar do top 10 mundial da probabilidade de incumprimento, com 33,8%, segundo o monitor da CMA DataVision, ultrapassando o Paquistão.

Dado que a diferença de risco é muito pequena em relação ao Paquistão, poderá ocorrer um sobe e desce ao longo do dia entre os dois países. No entanto, esta "graduação" negativa sinaliza o agravamento das condições de crédito em relação a Portugal.

Os juros da dívida pública portuguesa a 10 anos abriram a subir, de novo. Fecharam, ontem, nos 6,78% e estão hoje nos 6,85%, segundo a Bloomberg. O spread (diferença) em relação aos juros de remuneração dos Bunds alemães (títulos de referência na zona euro) aumentou, situando-se quase em 4,5%.

A linha vermelha dos 7% nos juros a 10 anos poderá estar a ser "testada" como antecâmara para o leilão de Obrigações do Tesouro (OTs) a ser colocado amanhã pelas 10H30 pelo IGCP (Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público). O leilão prevê OTs com maturidades em 2016 e 2020 num montante indicativo entre 750 e 1250 milhões de euros.

Risco político elevado na Irlanda

Contudo, a situação mais volátil ultimamente continua a ser a da Irlanda. Quer os juros da dívida quer o risco de default regressou à alta hoje de manhã. Os juros da dívida pública a 10 anos estão nos 7,89% e os analistas falam dos mercados poderem testar hoje os 8%. O Tigre Celta mantém o 3º lugar no TOP 10 mundial do risco de default, com quase 41%.

Os analistas coincidem na opinião que, a par da situação muito difícil da banca irlandesa (ontem, o custo dos credit default swaps, seguros contra esse risco, disparou em relação a alguns desses bancos), é elevado o risco de desagregação da coligação maioritária que suporta o governo liderado pelo Fianna Fáil.

A prova de fogo será a aprovação do orçamento para 2011 que será discutido em dezembro e que prevê um corte da despesa pública na ordem dos €6 mil milhões e a imposição de novos impostos ligados à propriedade imobiliária e ao consumo de água residencial (uma taxa fixa anual). O governo tem uma maioria no parlamento, o Dail, apenas, de três lugares, dois deles de independentes e arrisca-se a perder um outro em eleições em Donegal South West no próximo dia 25. Há, também, rumores de dissensões dentro do Fianna Faíl e a oposição do partido de coligação, os Verdes, a algumas medidas previstas.

O comissário da União Europeia para os Assuntos Económicos e Monetários, Olli Rehn, em visita à Irlanda, insistiu num entendimento entre os partidos para o apoio ao plano de ajustamento de 2011 (que pretende reduzir o défice público de 32% para 10% do PIB), mas a Morgan Stanley vaticinava ontem que a Irlanda poderá ter de acabar por recorrer à Facilidade Europeia de Estabilização Financeira.

 

Ver:

As responsabilidades reais do governo são 600% do PIB:

“A zona Euro está entulhada num passivo horrendo que vai muito para além das dívidas nacionais de que se tem falado” e o mesmo acontece para o Reino Unido e os Estados Unidos, refere, em exclusivo ao Expresso, Ben Davies, CEO e cofundador da Hinde Capital, uma firma de gestão de investimentos, sediada em Londres, a funcionar desde 2007.

O nível de responsabilidades reais dos designados pejorativamente por PIGS (acrónimo para Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) é muito superior ao que se julga – no caso português o valor líquido real negativo do governo é de 600% do PIB, atendendo a um estudo recente da Morgan Stanley Research, uma firma financeira global, na sua primeira edição de ‘Sovereign Subjects’.

Mas a situação portuguesa nem é a pior – a Grécia atinge 1500% do PIB, a Irlanda 1400%, a Espanha mais de 1000%, o Reino Unido 1000% e o Estado federal dos EUA 800%. Portugal e França encontram-se em patamares similares, de 600%, e a Alemanha nos 500%.

Situação insustentável

“Trata-se de uma situação insustentável. Os problemas na Europa estão, apenas, a começar, e este problema não é, apenas, dos PIGS, nem da zona euro – é global, no Ocidente. No caso da zona Euro, os países membros têm a condicionante de não dispor da vantagem imediata da desvalorização da moeda e os países da periferia da zona euro apenas conseguirão um ajustamento através de preços e salários mais baixos, para serem competitivos”, refere Davies. E acrescenta: “Mas até poderão ser os mais felizardos, pois o desejo político de manter o euro é muito forte”, o que poderá levar o Banco Central Europeu (BCE) a enveredar “pela criação de moeda de modo a desvalorizar o valor das dívidas em relação à inflação”.

O BCE resiste à tentação dessa deriva “de monetização plena” da dívida, “mas suspeito que acabará por não ter outra opção”, diz Davies. “Contudo, o BCE está já envolvido efetivamente num esquema de quase subsidiação orçamental dos governos da zona euro”, através da aquisição de títulos do Tesouro junto da banca, ainda que o banco central alegue que “esterilizou” essas compras, o que o leva a alegar que não se trata de política monetária idêntica ao quantitative easing da Reserva Federal americana. O quantitative easing é uma política monetária de último recurso quando as taxas de juro estão já perto de 0%, e os bancos centrais decidem aumentar a oferta de moeda.

No caso português, o financiamento através do BCE subia a 49,1 mil milhões no final de agosto, ou seja 29,5% do PIB estimado para este ano. No caso irlandês e grego era superior em termos absolutos e relativos face ao PIB.

Segundo referia, esta semana, o Financial Times Deutschland, as aquisições de títulos públicos por parte do BCE já representam 14% de toda a dívida soberana desses países, tornando o banco central a força dominante nesse mercado da dívida na zona euro.

Uma avaliação da situação líquida diferente

Ben Davies socorreu-se do estudo recente da Morgan, da autoria de Arnuad Mares (“Ask Not Wheter Governments Will Default, but how”) que aponta para uma avaliação da situação líquida de um dado país que vai para além da contabilização tradicional da dívida em relação ao PIB (seja a dívida pública, seja a dívida externa total, privada e pública), a qual não “captura” um largo espetro de responsabilidades que são, também, dívida. As estimativas da Morgan, agora realizadas, apontam para a inclusão de três indicadores – a dívida bruta face ao PIB, o défice estrutural e as estimativas dos encargos para as contas públicas do envelhecimento populacional.

O estudo da Morgan aconselha, ainda, o uso de um outro indicador, o da dívida pública em relação às receitas estatais. Nesse caso, para 2009, os EUA estão acima de 350%, a Grécia acima de 310%, a Irlanda nos 248%, a Itália nos 187,5%, Portugal nos 184,5%, o Reino Unido nos 169,2% e Espanha nos 153,2%. Ou seja, no caso português, seriam necessários quase dois anos de receitas (idênticas às de 2009) para pagar a dívida pública. Mas há situações manifestamente piores.

A Morgan conclui que a discussão não é tanto se os governos entrarão em situação de incumprimento (de default), mas sim como o farão e avisa os credores das dívidas soberanas, os detentores de títulos do Tesouro, que deverão preparar-se para uma “era de opressão financeira”, uma alternativa ao default puro e simples. O que já aconteceu no passado, recorda a Morgan, que dá exemplos históricos. Tal “opressão” poderá ocorrer pela imposição de taxas de remuneração reais dos títulos negativas ou artificialmente baixas, pelo pagamento da dívida através de divisas desvalorizadas, e pela “distorção dos preços da dívida a favor dos governos”, enumera a Morgan.

 

Dívida portuguesa deve atingir 86% do PIB em 2010:

  • Dívida pública consolidada (% PIB)
  • Ano Valor
    2007 63,6
    2008 65,9
    2009 69,7e
    2010 70,5e
    2011 70e

e - estimativa

 

"Portugal corre risco de falência económica":

Simon Johnson, antigo economista chefe do FMI, considera que Portugal, tal como a Grécia, "corre risco de falência económica" e é hoje um país mais arriscado que a Argentina de 2001.

"O próximo no radar é Portugal. Este país só não está no centro das atenções porque a Grécia caiu numa espiral descendente. Mas estão ambos perto de falência económica e parecem hoje bem mais arriscados do que a Argentina quando entrou em incumprimento, em 2001", lê-se num artigo assinado em conjunto por Simon Johnson, antigo economista chefe do FMI, e Peter Boone, do ‘Center for Economic Performance' do London School of Economics.

Para estes dois especialistas "nem os líderes da Grécia nem os de Portugal estão preparados para impor as políticas necessárias" e, no caso português, "não se está sequer a discutir cortes sérios".

Certos de que as políticas projectadas são insuficientes, Simon Johnson e Peter Boone antecipam que "Portugal e Grécia vão ter níveis de desemprego elevadíssimos nos próximos anos" e afirmam que "Portugal está esperançado que poderá sair desta situação pelo crescimento, mas isso só poderia acontecer com um extraordinário boom económico".

"Tenhamos dó dos políticos portugueses mais ponderados quando dizem que a probidade orçamental exige apertar o cinto mais cedo (...) Os políticos portugueses nada podem fazer senão esperar que a situação vá piorando para depois pedirem ajuda externa", declaram.

Porque falhou Portugal

Tal como a Grécia, Portugal entrou numa espiral de dívida insustentável, defendem os autores.

"Portugal gastou demasiado durante os últimos anos, com a dívida pública a atingir os 78% do PIB em 2009 (comparando com 114% na Grécia e os 62% da Argentina, quando entrou em incumprimento). Esta dívida tem sido financiada sobretudo por investimento estrangeiro e, tal como a Grécia, em vez de pagar os juros desses títulos, Portugal optou por, ano após ano, refinanciar a sua dívida", sustentam.

"Em 2012, o rácio dívida pública/PIB português deverá atingir 108% se o país atingir as suas metas de corte do défice. Chegar-se-á no entanto a um ponto em que os mercados financeiros vão simplesmente recusar-se a financiar este esquema Ponzi", concluem.

Depois de descreverem a situação portuguesa, Johnson e Boone acusam as agências de ‘rating' de terem medo de "tocar em Portugal".

"Hoje, e apesar dos perigos evidentes e dos elevados níveis de dívida, as três grandes agências de ‘rating' estão certamente assustadas em dar o passo de declarar a dívida grega como ‘junk'. Têm também um receio parecido em tocar em Portugal", lê-se no texto.

 

Endividamento público gera empobrecimento:

Os autores do estudo “The Impact of High and Growing Government Debt on Economic Growth – an empirical investigation for the Euro Area” (publicado nos Working Paper Series), Cristina Checherita e Philipp Rother, especialistas da Divisão de Políticas Orçamentais do BCE em Frankfurt, encontraram evidência, ao longo de 40 anos, de “um ponto de viragem” similar ao limiar histórico de que falaram Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff em uma análise de dois séculos, a que já nos referimos. Acima daquele limiar dos 90-100% estarão, até final do ano, a Grécia (124,9%), Itália (118,2%) e a Bélgica (96,7%), e Portugal a partir de 2011, com 91,1%, segundo as estimativas da Comissão Europeia.

“Tendo verificado um impacto não-linear do endividamento no crescimento para os 12 países da Zona Euro, isso dependerá, no entanto, do nível inicial de dívida. Por exemplo, verificámos que um aumento de 10 pontos percentuais num nível de dívida de 90% do PIB – ou seja, uma evolução entre os 90% e os 100% – implicará, em média, para esta nossa amostra, uma redução do crescimento anual do PIB per capita de 0,09 pontos percentuais. Se o aumento for de 100% para 110%, essa redução será maior, na ordem dos 0,16 pontos percentuais no PIB per capita”, referiu-nos Cristina Checherita. Efeitos multiplicadores negativos mais baixos dos que o do estudo dos especialistas do FMI.

Este estudo observou, ainda, que um ponto percentual de aumento no peso da dívida pública no PIB parece determinar, em média, um aumento de 7 pontos base na taxa de juro real de longo prazo paga a detentores de dívida soberana e de 11 pontos base nas taxas de juro nominais. Este multiplicador tem, naturalmente, um efeito de agravamento das condições de crédito aos Estados com endividamento crónico. O aumento, no caso português, de mais de 22 pontos percentuais entre 2007 e 2010 poderá significar um agravamento entre 150 a 240 pontos base, ou seja um adicional de mais de 1,5 pontos percentuais nas referidas taxas de juro reais de longo prazo e de mais de 2,4 pontos percentuais nas nominais.

O estudo conclui, por isso, que “definir um nível de dívida mais elevado para apoiar o crescimento não é uma opção de política”, admitindo abertamente que “os resultados [deste estudo] representam um argumento adicional a favor da implementação de estratégias ambiciosas de redução da dívida”.

 

FMI vê défice português em 5,8% e uma dívida pública de 97,8% do PIB em 2015:

As estimativas do organismo internacional apontam para um défice orçamental de 5,8% e uma dívida pública de 97,8% do PIB em 2015.

O relatório "Fiscal Monitor", do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado ontem, revela que os receios dos investidores em redor das contas públicas de alguns países europeus reemergiram recentemente sem que isso tenha sido justificado pela debilidade da saúde financeira de alguns desses países.

É o caso da Grécia e de Portugal "que apesar de o ‘outlook' orçamental ter melhorado a um ritmo mais elevado que o esperado" continuam a verificar uma subida da ‘yield' das suas obrigações do Tesouro.

Além disso, o organismo internacional salienta o facto de Portugal "ter complementado o seu plano de despesa com medidas substantivas ao nível da receita, tais como o aumento do IVA, uma vez que caso [o orçamento] dependesse exclusivamente de cortes dos gastos teria sido um grande desafio, dada a dimensão do ajuste."

Dívida pública e défice orçamental

"Os défices estão a cair em vários países, particularmente nos países emergentes porque as condições económicas estão a melhorar. Mas, no geral, 2010 continua a ser caracterizado por um estilo de apoio da política fiscal. Contudo, 2011 será diferente. Apenas para uma mão cheia de países irá registar-se um aumento do défice. Para 90% dos países, projectamos uma redução do défice", estimam os especialistas do FMI.

Não será o caso de Portugal que, segundo o organismo internacional, deverá registar uma subida do défice de 5,2% do PIB em 2011 (acima dos 4,6% estimados pelo Governo) para 5,8% dentro de cinco anos, o mesmo que a Irlanda em 2015.

Ao nível da despesa orçamental, o FMI coloca Portugal no grupo dos países com um nível de "défice médio" (economias que comportam um défice orçamental entre 5% e 10% face ao seu PIB). Neste grupo figuram países como França, Itália, Canadá e Turquia.

No bloco das nações com os mais elevados défices, com défice superiores a 10% do PIB estão a Irlanda, Japão, Espanha, Reino Unido, Grécia, Índia e EUA.
"Para a maioria dos países desenvolvidos o rácio da dívida pública pelo PIB continuará a aumentar em 2011 - e continuará aumentar até para aqueles países onde o nível desse rácio está acima da média", lê-se no relatório.

É neste quadro que se enquadra Portugal, que segundo as estimativas do FMI, entre 2010 e 2015 deverá passar de uma dívida pública de 83,1% do PIB para 97,8% da riqueza do país.

O FMI avança ainda com a estimativa de que Portugal necessita ainda de realizar ajustes fiscais de 6,7% entre 2010 e 2020 para conseguir atingir uma dívida pública líquida de 45% do PIB, média registada pelo grupo dos 20 países mais ricos do mundo antes da crise.

Emissões de dívida em 2011

Os técnicos do FMI perspectivam que, apesar de "a necessidade de financiamento médio bruto das economias avançadas já ser elevada, deverá aumentar ligeiramente em 2011." Este será também um cenário com que Portugal se deverá deparar no próximo ano, alerta.

De acordo com as projecções da Bloomberg de Janeiro, referentes ao vencimento da dívida soberana de curto e longo prazo, e com as projecções do relatório "World Economic Outlook" do FMI de Outubro de 2010, os especialistas do organismo internacional avançam que, em 2011, o montante de dívida nacional que irá vencer atingirá os 15,5% do PIB.

Além disso, antecipam que o IGCP, entidade responsável pela gestão da tesouraria e da dívida pública directa do Estado, irá financiar-se no mercado em cerca de 20,7% do PIB, mais 1,8 pontos percentuais que o realizado este ano.

O montante de financiamento relativo de Portugal compara com os 23,8% do PIB da Grécia, 22,5% da Itália, 17,9% da Irlanda e da Espanha.

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