sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Euro pode não sobreviver à crise se não se criar um "bad bank"

In "Jornal de Negócios":

2 A existência do euro poderá estar em perigo, caso a União Europeia (UE) não dê passos firmes para retirar do mercado os activos considerados tóxicos, afirmou o investidor multimilionário George Soros em Davos.

Se a UE não participar nos planos para retirar activos tóxicos, colocando-os num "bad bank" (banco que compra crédito malparado, à semelhança do que Obama propôs nos EUA), "o euro pode não sobreviver a esta crise", declarou Soros em entrevista ao jornal austríaco "Der Standard" concedida em Davos, citado pelo "El Economista".


"Existem grandes problemas a nível internacional. Os programas de estímulo conjuntural não são suficientes", defendeu o investidor, que há um ano afirmou que a crise era muito mais profunda do que se pensava.


George Soros, que ganhou mil milhões de dólares a apostar na queda da libra em 1992 (sendo conhecido como o homem que bateu o Banco de Inglaterra), salientou que será precisa "uma espécie de acordo sobre o capital malparado, de modo a que o fardo seja partilhado entre todos e que cada país seja parte presente". Se assim não for, mais países irão sofrer, garantiu.


Na opinião deste investidor, que nasceu na Hungria e depois nacionalizou-se americano, há também que delinear "um plano de resgate à escala mundial" para ajudar os países em desenvolvimento, que estão a sofrer os efeitos da crise financeira.


Jim Rogers diz que euro desaparecerá nos próximos 20 anos


Recorde-se que há dois meses o investidor Jim Rogers, presidente da Rogers Holdings e que co-fundou o Fundo Quantum com George Soros, disse que o euro deixará de existir no prazo de 20 anos, uma vez que os políticos vão começar a culpar a moeda única pelos problemas nos seus países.


"A moeda europeia não vai além dos próximos 15 a 20 anos”" afirmou Rogers num encontro de investidores organizado pelo ABN Amro, citado pela Bloomberg. "Infelizmente, o euro tornou-se uma moeda política em vez de uma moeda económica", referiu, acrescentando que "nunca nenhuma moeda de uma união sobreviveu".


De acordo com este investidor, que em Abril de 2006 previu – correctamente – que o preço do ouro ascenderia aos mil dólares por onça, a moeda única da Zona Euro é um bom conceito. No entanto, segundo Rogers, os políticos estão a começar a culpar o euro pelos seus problemas e poderão começar a sair da Eurolândia ou a pedirem concessões a Bruxelas.

Roubini prevê mais desgraças para a economia mundial

In "Jornal de Negócios":

untitled Na edição de 2007 do Fórum Económico Mundial, Nouriel Roubini advertiu para o facto de os lucros recorde das empresas e os bónus estarem a encobrir uma "aterragem dura" que estaria para vir. Nessa ocasião, Jacob Frenkel, ex-governador do Banco de Israel, disse que discordava veementemente.


Agora já não discorda. "Roubini foi intelectualmente corajoso e mostrou saber o que dizia", diz agora Frenkel, actualmente vice-chairman da AIG, seguradora que só sobreviveu à crise devido a empréstimos governamentais superiores a 100 mil milhões de dólares. "Ele ganhou credibilidade e merece-a", acrescentou, citado pela Bloomberg.


Esta semana, Roubini regressou a Davos com o epíteto de adivinho da pior crise económica e financeira desde a Grande Depressão – juntando-se assim à lista de outros "profetas da desgraça" que ficaram célebres por preverem rumos totalmente inesperados e que se revelaram correctos.

Roubini tem 50 anos e é professor na Universidade de Nova Iorque. Escreve também textos de opinião para o Project Syndicate, que são publicados em jornais de todo o mundo. Em Portugal, é o Negócios que detém o exclusivo dos textos de Roubini.


O economista, que está actualmente a escrever um livro sobre a crise, diz que o pior está ainda para vir. Segundo ele, os bancos têm ainda pela frente perdas muito maiores do que imaginam, relacionadas com a crise do crédito. E estima que haverá mais entidades financeiras a precisar de ser nacionalizadas e que a economia mundial continuará a registar uma contracção ao longo de 2009.


"Já há muitas pessoas a ver o mesmo que eu, mas ainda não chegaram ao mesmo ponto. Não sei o que é que algumas pessoas andam a fumar", afirmou Roubini à Bloomberg.


Em Fevereiro de 2007, Nouriel Roubini escrevia no seu blog: "em breve, a festa terá acabado". E advertia para as "penosas consequências para a economia norte-americana e mundial". Em Fevereiro do ano passado, o seu tom tornou-se mais apocalíptico, levantando o espectro de um colapso "catastrófico" que os bancos centrais não conseguiram evitar, levando à falência de grandes bancos com forte exposição a empréstimos hipotecários e a uma "forte queda" das acções.


No mês seguinte, o Bear Stearns colapsou e teve de ser salvo pelo JPMorgan Chase, num acordo apoiado pelo governo americano. Em seguida, em Setembro, o Lehman Brothers entrou em processo de falência, levando a banca a não abrir tão facilmente mão do seu dinheiro, o que privou empresas e pessoas singulares de acesso ao crédito. O governo dos EUA, entretanto, já teve que resgatar a AIG, a Fannie Mae e a Freddie Mac. O índice Standard & Poor’s 500, por seu lado, registou o pior ano desde 1937.


Leia aqui um dos mais recentes textos de opinião de Roubini.

Caso Freeport

In "Jornal de Negócios":

Um país louco

 

Que Portugal por vezes enlouquece já todos o sabemos. Mas que o faça com tanta frequência e nos momentos em que mais seria de esperar alguma racionalidade e bom senso é o que já não pode deixar de suscitar alguma perplexidade. Por estes dias, em que uma profunda crise económica avassala o planeta e portanto o nosso cantinho também,...

Por estes dias, em que uma profunda crise económica avassala o planeta e portanto o nosso cantinho também, o País envolve-se numa historieta requentada a propósito de um empreendimento comercial. E, como sempre nestes casos, depressa deixou de haver notícia para passar a dominar a histeria e a barafunda.


Assim, sem perder muito tempo com este assunto sórdido, gostaria tão-só de deixar dois comentários. O primeiro diz respeito à síndrome "Watergate" que parece afectar alguns dos nossos jornalistas. Existe a ideia de que deitar abaixo um governante, e quanto mais importante melhor, representa o máximo da demonstração do poder do jornalismo e da excelência da profissão. Assim, nalgumas destas cabeças passam frequentemente imagens ao estilo cinematográfico de Hollywood, em que a investigação se torna numa aventura e a descoberta de coisas risíveis se transformam num grande momento dramático. Desta vez o alvo é o primeiro-ministro, o que seguramente excita acima do normal muita redacção e a clientela de uns quantos bares de Lisboa. Em consequência os atropelos sucedem-se. Perseguem-se testemunhas, conseguem-se declarações de forma insidiosa ou mesmo ilegal contra a vontade expressa dos próprios, manipula-se a informação para além do já habitual. A baixeza dos métodos chega ao nível da sarjeta.


Esta gente esquece contudo a realidade dos factos. Quem deitou abaixo Nixon não foram os jornalistas, mas sim o próprio núcleo duro do poder, através da acção de um alto dirigente do FBI que de facto conduziu as operações. Os jornalistas nunca passaram de emissários úteis e totalmente manipulados.


Ora isto introduz o segundo comentário e aquele que me parece ser a única questão realmente relevante desta história do Freeport. Na nossa polícia ou no Ministério Público existe gente que sistematicamente quebra as regras do segredo de justiça fornecendo aos jornalistas pistas, informações e documentos restritos. Basta ver como nas televisões e nos jornais se exibem cópias de documentos apreendidos, cuja proveniência só pode vir da investigação. Basta pensar como uma carta enviada pela polícia inglesa para a polícia portuguesa vai parar às redacções dos jornais sem que isso parece preocupar ninguém.


Que a Procuradoria da República não se impressione com esta realidade, que o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sempre muito ofendido com a mínima crítica, não se perturbe com a evidência de tão flagrantes faltas da sua corporação, eis o que devia suscitar um debate alargado e a indignação dos cidadãos.


A acrescentar à morosidade da justiça e à incongruência das suas decisões em casos reais, existe hoje um legítimo descrédito sobre a integridade da condução das investigações. São demasiado frequentes os atropelos à presunção da inocência, à devassa da vida privada, à manipulação da opinião pública. E isto sim, devia preocupar o sistema, desde os próprios agentes à classe política, passando naturalmente pelo comum do cidadão.


O próprio Partido Socialista, perante mais este ataque raivoso contra o primeiro-ministro – como lhe chamou e bem Freitas do Amaral –, não soube responder à altura refugiando-se em desculpas de pormenor sem ir direito ao assunto. Não são os procedimentos que estão em causa, já que isso diz respeito, no pior dos casos, a questões administrativas. Mas sim o facto de com toda a impunidade, nas televisões e nalguma imprensa, se insinuar que o então ministro José Sócrates marcou uma reunião no ministério, com um desconhecido, para combinar o pagamento de luvas. É preciso topete, para continuar a citar Freitas do Amaral.


Definitivamente o país ensandeceu. E na pior altura. Quando seria preciso um impulso energético, positividade e espírito de iniciativa, tudo o que se vê é o habitual queixume, o ódio, a intriga e um negativismo fomentado pelos principais agentes sociais e partidários. Assim Portugal não vai lá

 

Ver:

Em defesa da defesa de Sócrates:

... Se o processo está descontrolado, a manipulação parece controlada. O primeiro-ministro pode sair mal ou, até, sair vítima deste processo. Mas pisa terreno minado. Como disse César, que tinha uma mulher que tinha de parecer o que era, "é impossível não acabar sendo como os outros acreditam que você é".

Estratégia manhosa:

... Bem, que mais terão para lançar nos jornais depois de todas as manobras falhadas? Esta é a dúvida e uma pista para a resposta está na estratégia já ensaiada e que vai tendo eco nalguns blogues e mesmo na boca de Miguel Sousa Tavares, agora há que tentar afastar a procuradora encarregue do processo? A verdade é que essa procuradora tem vários processos importantes, como o BPN ou a Operação Furacão, e parece que a sua equipa não está feita com fugas ao segredo de justiça, daqueles processo nada transpirou para a comunicação social.

Não é difícil de adivinhar que agora vão tentar afastar a procuradora, o ideal seria a investigação ser feita com o objectivo de obter novos elementos para mandar para os jornais de forma a esvaziar a justiça e fazer um julgamento público, ainda antes das eleições, de ser feita qualquer acusação e da intervenção de qualquer tribunal. É Assim a justiça dos fascistas, ainda sem qualquer acusação, sem que alguém tenha sido constituído arguido reuniu-se um tribunal plenário onde alguns jornalistas decidiram fazer o papel de juízes dos tribunais plenários dos fascistas. Com uma pequena diferença, quem lhes leu a acusação nem teve a coragem de dar a cara como faziam os agentes da Pide, estes são ainda mais cobardes.

O mais grave é que vejo por aí muita gente que é democrata e que a troca de poder chegar ao poder se esquecem dos princípios e alinham na encenação.

 

Ex-director da Judiciária demitido por este Governo diz ter dado prioridade à investigação do caso Freeport

Santos Silva indignado contra "continuação de campanha política" 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Obama anuncia medidas para aumentar eficiência energética e reduzir dependência do petróleo

In "PÚBLICO.PT":

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Obama instruiu o Departamento de Transportes a apresentar, até Março de 2011, novos padrões de eficiência energética para os automóveis, estando previsto que a indústria comece a aplicar as novas regras nos 18 meses seguintes.
Em causa, está a agilização e regulamentação de uma lei de 2007, segundo a qual, em 2020, os automóveis produzidos no país deveriam ter um consumo médio de um galão por cada 35 milhas (cerca de 15 quilómetros por litro) – valores semelhante à média dos veículos que circulam na Europa.

...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Site particular permite saber tudo o que o portal das compras públicas não mostra

In "PUBLICO.PT":

Conhecer e escrutinar as compras por ajuste directo de toda e qualquer entidade pública passou a estar, desde terça-feira, ao alcance de todos os cidadãos. Este passo de gigante na transparência da administração pública não resulta directamente de uma medida do Estado, mas da iniciativa da Associação Nacional para o Software Livre (ANSOL).
Se se quiser saber, por exemplo, que compras é que uma junta de freguesia fez, a quem e por quanto, não há qualquer problema. Basta aceder ao site http://transparencia-pt.org/, escrever o nome da autarquia no campo “pesquisa” e clicar. No monitor do computador surgem então todas as aquisições de bens e serviços efectuadas por ajuste directo por aquele entidade, desde Agosto de 2007, com indicação da data, do nome do fornecedor, do objecto da aquisição e do preço.
Clicando sobre o preço ou o objecto abre-se imediatamente a janela do portal oficial dos contratos públicos (http://www.base.gov.pt/), criado no Verão no âmbito do ministério das Obras Públicas e onde constam os dados mais detalhados daquele negócio. Se se clicar em cima do nome da entidade adjudicada (empresa fornecedora) surge a informação disponível sobre a mesma no site publicacões on line do Ministério da Justiça (http://publicacoes.mj.pt). Neste site, que desde 1 de Janeiro de 2006 publica todos os registos a que as sociedades comerciais estão obrigadas, e que até então saíam na terceira série do Diário da República, extinta no quadro do programa Simplex, encontram-se, entre outros, todos os elementos relativos à identidade dos sócios e dos gerentes, e às partes de capital de cada sócio, registados depois daquela data.
As possibilidades de pesquisa oferecidas pelo site “Transparência na AP” incluem, para lá do nome da entidade adjudicante, o tipo de fornecimento contratado. Torna-se assim possível procurar todas as compras de vinho, papel higiénico ou quaisquer outros bens efectuadas pelas cerca de 12 mil entidades públicas sujeitas a registo obrigatório das suas aquisições por ajuste directo, da mesma forma que se localizam as contratações de empreitadas, consultorias, ou quaisquer outros serviços. A pesquisa pelo nome dos fornecedores também está disponível.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sete temas a que os investidores devem estar atentos em 2009

In "Jornal de Negócios":

fundos30f Num ano em que a crise vai continuar a centrar as atenções, são vários os temas a que os investidores devem estar sobretudo atentos. O Activobank7 seleccionou sete, considerando que a deflação é o maior risco e a descida dos juros para mínimos históricos a maior certeza. Veja aqui todos os temas e a análise na integra.
Numa análise divulgada hoje, o banco online do Millennium bcp identifica os sete temas que deverão marcar os mercados accionistas em 2009.
Entre os temas seleccionados, o banco refere que a maior certeza está na descida das taxas de juro para mínimos históricos e a deflação representa o maior risco. Já o factor mais crucial será a confiança.
Assumindo que a recessão económica é inevitável e que o desemprego vai aumentar substancialmente, o banco questiona se “haverá alguma razão para estar optimista” e se “poderão os mercados financeiros antecipar a recuperação económica ainda este ano”.
“A presente conjuntura de mercado representa um significativo teste aos nervos, paciência e disciplina dos investidores. Mas, com frequência, as melhores oportunidades surgem nas conjunturas mais adversas”, conclui o Activobank7.

Em baixo segue análise completa do Activobank 7:

1. Taxas de juro em mínimos históricos

A variável económica que terá um efeito mais notório no “bolso” dos investidores (e dos cidadãos em geral) em 2009 será o nível de taxas de juro.

Nos primeiros meses do ano deveremos continuar a assistir a decisões das autoridades monetárias no sentido de reduzirem as taxas de juro para mínimos históricos.
Nos EUA, onde as taxas de referência já estão próximas de zero, a política monetária deverá ser de natureza quantitativa, nomeadamente através da recompra de dívida pública de longo prazo por parte da Reserva Federal (Fed), procurando reduzir dessa forma as taxas juro de longo prazo e dessa forma diminuir os encargos financeiros dos particulares e empresas.

Na Zona Euro, os responsáveis têm sido mais moderados nas suas declarações, mas espera-se que a taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE) possa descer pelo menos até 1,5%, abaixo do anterior mínimo de 2%, num contexto de forte abrandamento da inflação (estimativa de 1,6% em Dezembro de 2008).
Este cenário irá:
-aliviar de forma significativa as prestações de crédito com taxa indexada (a generalidade do crédito à habitação em Portugal está indexado a taxas Euribor). Num empréstimo de 100.000 € a 30 anos, as prestações mensais poderão baixar em mais de 200 €, aumentando desta forma o rendimento disponível;

- colocar um desafio aos investidores que privilegiam depósitos a prazo e certificados de aforro, uma vez que as taxas de juro nominais deverão atingir mínimos históricos, nomeadamente quando forem ultrapassados os bloqueios que ainda persistem no mercado monetário interbancário.
A curto prazo, as obrigações do Tesouro poderão ainda beneficiar com a descida das taxas de juro e a aversão ao risco, em particular na Zona Euro, em que a margem de redução é maior. Sendo as suas taxas fixas a longo prazo, a atractividade da dívida pública aumenta neste período, o que faz aumentar a sua procura e os seus preços, ainda que os mesmos possam já ser considerados historicamente caros na actualidade.

2. O risco da deflação

O risco de deflação na generalidade das principais economias é real, pela primeira vez desde a Grande Depressão dos anos 30.
O cenário de deflação (quebra generalizada dos preços) é o pior possível para a economia, na medida em que desincentiva o consumo e o investimento, de forma permanente. Se as famílias e as empresas sabem que os preços irão estar mais baixos no futuro, vão adiando as decisões de consumir e investir. Mesmo com taxas de juro zero, não compensa pedir crédito, já que quanto maior a deflação, maior o custo real do crédito.

A serem enraizadas expectativas deflacionistas por parte dos agentes económicos, as implicações para os investidores são vastas. Deverão ser evitados os activos que dependam do sector privado (ex. acções) ou activos reais como matérias-primas, e privilegiadas as obrigações do Tesouro de qualidade mais elevada, na medida em que o valor real do capital investido e dos juros recebidos aumenta com a descida de preços na economia.
Para combater este risco, as autoridades estão a adoptar medidas sem precedentes, não só por via monetária (taxas de juro) como por via de pacotes de estímulo orçamental, que deverão chegar aos 1.500 mil milhões de euros na União Europeia, EUA, Japão e China.
Estas medidas sem precedentes colocam, elas próprias, alguns riscos: o excesso de oferta monetária pode implicar fortes níveis de inflação quando se iniciar a recuperação económica, enquanto os pacotes de estímulo económico implicam o aumento dos défices orçamentais (para mais de 4% em 2010, segundo a OCDE) e a emissão massiva de dívida pública. Se actualmente existe procura suficiente para as novas Obrigações do Tesouro com baixas taxas de juro, quando diminuir a aversão ao risco o financiamento público poderá tornar-se mais caro e difícil.

O regresso dos dados fundamentais
Obrigações corporate estão a preços mínimos históricos
Nem todos os mercados emergentes são iguais

Em 2008, as emoções terão sido o principal determinante dos preços de mercado. O enorme processo de desalavancagem (venda de activos financeiros para liquidação de operações de crédito) gerou anomalias significativas ao nível dos preços e poderá ter criado raras oportunidades de investimento de longo prazo.
Ao longo do ano de 2009, os preços dos activos financeiros (em particular os das acções e das obrigações de empresas) poderão basear-se menos em sentimento e vendas forçadas, e mais em dados fundamentais como os resultados, os dividendos, o valor contabilístico, ou os níveis de incumprimento das empresas.


3. Obrigações corporate

Bill Gross, um dos maiores especialistas mundiais em obrigações, tem afirmado repetidamente que “as acções estão valorizadas para um cenário de Recessão e as obrigações corporate para um cenário de Depressão”.
É relativamente consensual que, aos preços actuais no mercado de obrigações de empresas, os investidores antecipam uma recessão económica mais profunda do que a Grande Depressão dos anos 30. As obrigações corporate terão sido as principais vítimas do processo de desalavancagem dos hedge funds (que ainda não terá terminado, aliás), atendendo à falta de liquidez destes mercados.
Aos preços actuais, a diferença (spread) entre a rendibilidade até à maturidade (yield) das obrigações corporate de bom risco e da dívida pública de prazo equivalente é de 5,75% nos EUA e 4,53% na Zona Euro, largamente acima da média histórica de 1,50% e 0,88%, respectivamente. As obrigações high yield, de risco superior, apresentam um spread de quase 20%, em ambos os lados do Atlântico!
Ao contrário das acções, cujo valor depende da expectativa de crescimento dos resultados futuros (que ainda é negativa em 2009), no segmento de obrigações corporate a única questão chave é saber se as empresas irão sobreviver até à maturidade da sua dívida (geralmente de curto e médio prazo), em condições de reembolsarem o capital e pagarem os juros. Note-se que em caso de falência, o detentor das obrigações encontra-se à frente dos accionistas na hierarquia da liquidação da empresa.
A acreditar que as medidas de política económica produzirão efeitos positivos, evitando um cenário de depressão e deflação, as yields actualmente disponíveis nos mercados de crédito, em muitos casos de dois dígitos, parecem representar uma boa oportunidade de investimento.
Também as obrigações indexadas à inflação (inflation linked), que incorporam actualmente um cenário de deflação, poderão ser uma boa oportunidade de investimento no caso de ser evitado este cenário.


4. Nem todos os mercados emergentes são iguais


Depois de se mostrarem muito resilientes nos primeiros meses de 2008, os mercados accionistas emergentes acumularam perdas de superiores a 50% entre Maio e Outubro, num contexto de forte quebra dos preços das matérias-primas, de agravamento da crise económica global e sobretudo de extrema aversão ao risco e de fuga dos investidores estrangeiros. Esta quebra foi relativamente indiferenciada.
Contudo, nem todos os países emergentes entraram para esta crise com as mesmas armas. 2009 poderá ser o ano em que os investidores irão "separar o trigo do joio":
- regressando aos mercados mais resilientes (como parece ser o caso do Brasil, pouco dependente de exportações, com baixo endividamento e um Banco Central credível; ou da China, que poderá beneficiar do baixo preço das matérias-primas, do enorme pacote de estímulo económico já anunciado, ou do facto das suas exportações serem compostas por produtos de baixo custo);
- continuando a penalizar os mercados mais frágeis, cujo crescimento era muito dependente de financiamento externo, como acontecia em muitos países da Europa de Leste.
Para determinar os “vencedores” em 2009 é fundamental acompanhar também a evolução do preço das matérias-primas, que em 2008 registaram a maior quebra (36%) dos últimos 50 anos, segundo o índice Reuters/Jefferies CRB.
A Agência Internacional de Energia estima uma contracção de 450 mil barris por dia no consumo de petróleo em 2009, com um preço médio de 51 dólares. Para estancar a forte quebra no preço do “ouro negro” nos últimos meses, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que controla 40% da produção mundial, já reduziu a sua produção diária em cerca de 15% desde Setembro.

Sectores chave na evolução da crise económica
Imobiliário
Automóvel

Se todas as atenções estiveram concentradas no sector financeiro em 2008, no ano que agora se inicia outros 2 sectores serão decisivos para a evolução da crise económica: o imobiliário e o automóvel.


5. O fim da quebra de preços no imobiliário?


A actual crise económica começou por ser uma crise financeira, com origem na quebra de preços do mercado imobiliário norte-americano (e agravada por práticas negligentes na concessão de crédito). Parece lógico assumir que o factor que esteve na origem da crise também poderá ajudar ao seu fim.
A eventual interrupção do ciclo de quebras de preços no mercado imobiliário em 2009 seria importante para estabilizar as estimativas de perdas do sector financeiro com a actual crise, aumentando a liquidez (e eventualmente o preço) dos denominados "activos tóxicos" que ainda continuam a fragilizar o balanço de muitas instituições financeiras, melhorando também a vontade e capacidade destas em retomarem uma actividade creditícia normal.


6. A sobrevivência da indústria automóvel


A indústria automóvel foi uma das vítimas mais notórias da forte quebra de confiança dos consumidores, acentuada a partir de Setembro de 2008. As vendas nos EUA caíram 36% em Dezembro e na Europa 26% em Novembro, em ambos os casos a maior quebra mensal da última década, mesmo num cenário de descida do preço dos combustíveis.
A Toyota, maior construtor japonês, que nunca registou prejuízos na sua história de 70 anos, anunciou recentemente que prevê o seu primeiro resultado anual negativo. Os automóveis são o bem de consumo mais caro, logo aquele cuja compra é mais fácil de adiar quando não existe confiança no futuro da economia.
Ainda que não seja tão decisiva para a estabilidade económica como o sector financeiro (havendo por isso menos disponibilidade das autoridades públicas para a apoiar), a indústria automóvel tem um peso significativo no emprego das principais economias mundiais, tanto por via directa como indirecta (fornecedores). As duas principais empresas exportadoras de Portugal (Qimonda e Auto Europa) dependem, no todo ou em parte significativa, da saúde desta indústria.
Na sua primeira conferência de imprensa como Presidente eleito dos EUA, Barrack Obama qualificou o sector automóvel como a coluna vertebral da indústria norte-americana, defendendo a aprovação de um pacote de ajudas de 17,5 mil milhões de dólares a 2 dos maiores construtores do país: General Motors e Chrysler.
Uma análise recente do Deutsche Bank concluiu que o processo de reestruturação associado à eventual falência dos “Big 3” (que inclui também a Ford) implicaria o corte da produção automóvel para metade, o que teria um impacto directo de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) e implicaria a perda de 2,5 a 3 milhões de empregos directos e indirectos nos EUA.
Assim, será importante acompanhar a evolução desta indústria ao longo de 2009, em particular qual o nível de apoios públicos disponibilizados para evitar a falência de alguns dos principais construtores mundiais (nomeadamente nos EUA) que, doutra forma, parece inevitável.

O factor mais crucial em 2009: a confiança


7. O regresso da confiança?

Deixámos para último o factor que nos parece mais importante para o desfecho final do ano de 2009: em que medida a actual falta de confiança pode ser ultrapassada.
- a falta de confiança (dos particulares e das empresas) tornará mais provável o temível cenário de deflação, que poderá transformar a recessão em depressão;
- a falta de confiança retirará força às medidas sem precedentes tomadas pelas autoridades no estímulo da economia, já que todo o rendimento disponível adicional será poupado e não consumido ou investido;
- a falta de confiança fará com que os Bancos depositem toda a liquidez adicional no Banco Central, não chegando às famílias e empresas através do mecanismo de transmissão do crédito.
Neste sentido, será muito importante acompanhar os principais inquéritos à confiança dos consumidores e dos empresários, na medida em que estes são bons indicadores avançados do nível de crescimento económico, da mesma forma que as cotações no mercado accionista.

Em conclusão

A recente evolução dos mercados financeiros fez desviar de forma significativa as rendibilidades das principais classes de activos das suas médias de longo prazo. Na última década, em particular, os activos de menor risco, como as obrigações do Tesouro, obtiveram retornos claramente superiores à média, enquanto os activos de maior risco, como as acções e as obrigações de empresas, registaram retornos reais nulos ou mesmo negativos.
Se acreditarmos num processo de reversão para a média, 2009 poderá representar o início de um novo ciclo de mercado, em que os activos de maior risco poderão retomar progressivamente o seu lugar natural no topo da escala de rendibilidades, ainda que o momento exacto de inflexão seja muito difícil de determinar.
É verdade que o caminho está repleto de desafios. Ainda não existe confiança. A presente conjuntura de mercado representa um significativo teste aos nervos, paciência e disciplina dos investidores. Mas, com frequência, as melhores oportunidades surgem nas conjunturas mais adversas.

A história das origens da sociedade anónima de responsabilidade limitada é uma enciclopédia da fraude

In "Jornal de Negócios":

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A história das origens da sociedade anónima de responsabilidade limitada é uma enciclopédia da fraude, cujos pontos altos foram a Companhia do Mississípi e a Companhia dos Mares do Sul. Com tanta trapaça, o Parlamento inglês decretou a sua proibição em 1720.
Adam Smith condenava em 1776 as sociedades anónimas por concederem a uma clique a possibilidade de manipular a maioria dos investidores e conquistar um poder desmesurado sobre a economia e o Estado. Como conseguiram então sobreviver e disseminar-se elas apesar de um currículo tão negativo e de opositores tão influentes? A má razão é que isso interessava aos poderosos endinheirados; a boa, que, fora o Estado, só elas estão em condições de canalizar pequenas poupanças para volumosos investimentos em actividades que beneficiam de grandes economias de escala.
De modo que uma espécie de contrato social instituiu a tolerância da sociedade anónima a troco da sua sujeição a uma regulamentação apertada. Ainda assim, foi só em 1900 que, por entre acusações de socialismo, a lei inglesa impôs, por exemplo, a obrigatoriedade de apresentação aos accionistas de contas auditadas.

Os sucessos recentes na Islândia recordam-nos que, ainda hoje, é possível os desmandos de aventureiros descontrolados levarem um país à ruína. Mas os estudantes de economia são poupados ao conhecimento de eventos como o relatado, não vá dar-se o caso de ficar abalada a sua confiança nas teorias muito limpinhas que lhes explicam como as economias funcionam. É muito mais conveniente fazê-los crer que tudo se resume a encontrar o ponto de intersecção da oferta e da procura, ignorando a importância das relações de poder na determinação do resultado final.
Sabemos há séculos que as sociedades anónimas se prestam a toda a espécie de abusos quando a sua actuação não é convenientemente regulada. Em casos extremos, podem semear a miséria e arruinar países. Mas foi preciso chegarmos junto ao abismo para esta verdade ser recuperada e reconhecida.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Multimilionário alemão Merckle suicidou-se

In "Jornal de Negócios":

adolf_merckle_milionario_pq O multimilionário alemão Adolf Merckle, que perdeu centenas de milhões de euros ao apostar na queda das acções da Volkswagen (VW), faleceu onde à noite, depois de ter se ter atirado para a frente de um comboio na sua cidade natal.
A família de Mercke já confirmou, num email citado pela Bloomberg, que se tratou de suicídio.
A notícia, divulgada pelo jornal alemão “Die Welt”, dá conta que Adolf Merckle morreu ontem à noite em Blaubeuren.

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Ver: 

 HeidelbergCement afunda em bolsa com suicídio de Merckle

Merckle "ficou destroçado com a sua incapacidade de lidar" com as perdas na VW

 
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