sábado, 18 de dezembro de 2010

O risco de bancarrotas(defaults) nos países ricos

In "Janela na web":

A evidência histórica confirma que há uma correlação muito forte entre crises bancárias e bancarrotas de países afectados, quer no caso de países ricos como de economias emergentes. As crises bancárias em geral precedem as crises de dívida soberana – aliás, ajudam a predizê-las, afirma o professor de Economia Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, que tem trabalhado com Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland, na história económica e financeira dos últimos 200 anos.

Num estudo recente, intitulado “From Financial Crash to Debt Crisis”, publicado, este mês, nos artigos científicos (working papers) do National Bureau of Economic Research americano, os dois economistas recordam que entre 1800 e 2009 ocorreram 290 crises bancárias e 209 bancarrotas (defaults, na designação técnica anglo-saxónica) de dívidas soberanas em 70 países ricos, emergentes e em desenvolvimento, abrangendo África, Ásia, Europa, América Latina, América do Norte e Oceânia, que analisaram.

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O problema estrutural reside no peso da dívida externa total (pública e privada) que atingiu rácios superiores a 100% em relação à riqueza criada anualmente (Produto interno bruto, PIB) em diversos países ricos, com destaque para os europeus, com o caso extremo da Irlanda (mais de 1000%!), seguido da Islândia (mais de 900%), Reino Unido (mais de 400%), Holanda (mais de 300%), Bélgica (quase 300%) e Suíça (mais de 270%), segundo os dados comparativos fornecidos pelo CIA World Fact Book 2010, com dados relativos a 30 de Junho de 2009. Portugal vem logo a seguir, em 8º lugar (com 230%), no clube de risco dos 25 países desenvolvidos com mais elevada dívida externa total em relação ao PIB.

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25 Mais da Dívida Externa total em % do PIB (2009)

País Dívida total ($mil milhões) %  do PIB
(billion dollars)  
Irlanda 2387 1050 %
Islândia 109 924 %
Reino Unido 9088 413 %
Holanda 2452 310 %
Hong Kong 631 303 %
Bélgica 1350 293 %
Suíça 1340 273 %
Portugal 507 230 %
Áustria 832 222 %
Dinamarca 607 197 %
França 5021 190 %
Espanha 2410 168 %
Suécia 669 168 %
Grécia 553 164 %
Alemanha 5208 160 %
Letónia 38 158 %
Finlândia 365 151 %
Noruega 548 149 %
Estónia 23 125 %
Hungria 150 121 %
Bulgária 49 110 %
Eslovénia 53 107 %
Lituânia 36 101 %
Austrália 920 100 %
EUA 13450 94 %

Obs: Dívida pública e privada em 30 de Junho de 2009

Fontes: Photius.com e CIA World Fact Book 2009 e 2010

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Ver:

O declínio da UE e de Portugal no mundo actual:

A variação da Divida de Portugal ao estrangeiro no período 2006-2009

  PIB Divida Liquida (PASSIVOS-ACTIVOS) Externa Divida Bruta (PASSIVOS) Externa Divida Liquida Externa Divida Bruta Externa
ANOS Milhões Euros Milhões € Milhões € % do PIB % do PIB
2006 155.446,0 126.053,4 402.867,4 81,1% 259,2%
2007 163.051,5 150.668,0 449.394,4 92,4% 275,6%
2008 166.435,3 165.194,5 448.623,0 99,3% 269,5%
2009 163.595,4 182.678,3 487.675,7 111,7% 298,1%
Variação 2006-09 5,2% 44,9% 21,1% 37,7% 15,0%
 
Fonte: Boletim Estatístico, Abril de 2010, Banco de Portugal

 

No período 2006-2009, o PIB português a preços correntes aumentou apenas 5,2%, mas a Divida Liquida Externa cresceu 44,9% (11,7% do PIB e a Divida Bruta subiu 21,1% atingindo 298,1% do PIB. E esta divida enorme vai continuar a crescer a um ritmo elevado com mostra o quadro.

 

Saldos da Balança de Pagamentos Correntes de Portugal a preços correntes

  SALDOS DA BALANÇA DE PAGAMENTOS CORRENTES PIB SALDOS DA BALANÇA DE PAGAMENTOS CORRENTES
ANOS Em % do PIB segundo o FMI Milhões de euros (A preços correntes) Em Milhões Euros
2009( E ) -9,1% 163.595,4  
2010 (P) -9,0% 165.070,7 -14.856,4
2011 (P) -10,2% 168.054,7 -17.141,6
2012 (P) -9,4% 171.771,6 -16.146,5
2013 (P) -9,4% 176.266,0 -16.569,0
2014 (P) -9,4% 181.413,6 -17.052,9
2015 (P) -8,9% 187.079,9 -16.650,1
SOMA (2010 -2015)     -98.416,5

Fonte: Perspectivas da Economia Mundial: Reequilibrar o crescimento, Abril 2010, FMI

Utilizando as previsões do FMI do saldo da Balança de Pagamentos Correntes e do crescimento do PIB no período 2010-2015, estimamos que o saldo negativo acumulado na Balança de Pagamentos Correntes de Portugal some 98.416,5 milhões € o que corresponde a 56% da média dos valores do PIB no mesmo período, o que fará disparar a divida de Portugal ao estrangeiro.

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