quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sete temas a que os investidores devem estar atentos em 2009

In "Jornal de Negócios":

fundos30f Num ano em que a crise vai continuar a centrar as atenções, são vários os temas a que os investidores devem estar sobretudo atentos. O Activobank7 seleccionou sete, considerando que a deflação é o maior risco e a descida dos juros para mínimos históricos a maior certeza. Veja aqui todos os temas e a análise na integra.
Numa análise divulgada hoje, o banco online do Millennium bcp identifica os sete temas que deverão marcar os mercados accionistas em 2009.
Entre os temas seleccionados, o banco refere que a maior certeza está na descida das taxas de juro para mínimos históricos e a deflação representa o maior risco. Já o factor mais crucial será a confiança.
Assumindo que a recessão económica é inevitável e que o desemprego vai aumentar substancialmente, o banco questiona se “haverá alguma razão para estar optimista” e se “poderão os mercados financeiros antecipar a recuperação económica ainda este ano”.
“A presente conjuntura de mercado representa um significativo teste aos nervos, paciência e disciplina dos investidores. Mas, com frequência, as melhores oportunidades surgem nas conjunturas mais adversas”, conclui o Activobank7.

Em baixo segue análise completa do Activobank 7:

1. Taxas de juro em mínimos históricos

A variável económica que terá um efeito mais notório no “bolso” dos investidores (e dos cidadãos em geral) em 2009 será o nível de taxas de juro.

Nos primeiros meses do ano deveremos continuar a assistir a decisões das autoridades monetárias no sentido de reduzirem as taxas de juro para mínimos históricos.
Nos EUA, onde as taxas de referência já estão próximas de zero, a política monetária deverá ser de natureza quantitativa, nomeadamente através da recompra de dívida pública de longo prazo por parte da Reserva Federal (Fed), procurando reduzir dessa forma as taxas juro de longo prazo e dessa forma diminuir os encargos financeiros dos particulares e empresas.

Na Zona Euro, os responsáveis têm sido mais moderados nas suas declarações, mas espera-se que a taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE) possa descer pelo menos até 1,5%, abaixo do anterior mínimo de 2%, num contexto de forte abrandamento da inflação (estimativa de 1,6% em Dezembro de 2008).
Este cenário irá:
-aliviar de forma significativa as prestações de crédito com taxa indexada (a generalidade do crédito à habitação em Portugal está indexado a taxas Euribor). Num empréstimo de 100.000 € a 30 anos, as prestações mensais poderão baixar em mais de 200 €, aumentando desta forma o rendimento disponível;

- colocar um desafio aos investidores que privilegiam depósitos a prazo e certificados de aforro, uma vez que as taxas de juro nominais deverão atingir mínimos históricos, nomeadamente quando forem ultrapassados os bloqueios que ainda persistem no mercado monetário interbancário.
A curto prazo, as obrigações do Tesouro poderão ainda beneficiar com a descida das taxas de juro e a aversão ao risco, em particular na Zona Euro, em que a margem de redução é maior. Sendo as suas taxas fixas a longo prazo, a atractividade da dívida pública aumenta neste período, o que faz aumentar a sua procura e os seus preços, ainda que os mesmos possam já ser considerados historicamente caros na actualidade.

2. O risco da deflação

O risco de deflação na generalidade das principais economias é real, pela primeira vez desde a Grande Depressão dos anos 30.
O cenário de deflação (quebra generalizada dos preços) é o pior possível para a economia, na medida em que desincentiva o consumo e o investimento, de forma permanente. Se as famílias e as empresas sabem que os preços irão estar mais baixos no futuro, vão adiando as decisões de consumir e investir. Mesmo com taxas de juro zero, não compensa pedir crédito, já que quanto maior a deflação, maior o custo real do crédito.

A serem enraizadas expectativas deflacionistas por parte dos agentes económicos, as implicações para os investidores são vastas. Deverão ser evitados os activos que dependam do sector privado (ex. acções) ou activos reais como matérias-primas, e privilegiadas as obrigações do Tesouro de qualidade mais elevada, na medida em que o valor real do capital investido e dos juros recebidos aumenta com a descida de preços na economia.
Para combater este risco, as autoridades estão a adoptar medidas sem precedentes, não só por via monetária (taxas de juro) como por via de pacotes de estímulo orçamental, que deverão chegar aos 1.500 mil milhões de euros na União Europeia, EUA, Japão e China.
Estas medidas sem precedentes colocam, elas próprias, alguns riscos: o excesso de oferta monetária pode implicar fortes níveis de inflação quando se iniciar a recuperação económica, enquanto os pacotes de estímulo económico implicam o aumento dos défices orçamentais (para mais de 4% em 2010, segundo a OCDE) e a emissão massiva de dívida pública. Se actualmente existe procura suficiente para as novas Obrigações do Tesouro com baixas taxas de juro, quando diminuir a aversão ao risco o financiamento público poderá tornar-se mais caro e difícil.

O regresso dos dados fundamentais
Obrigações corporate estão a preços mínimos históricos
Nem todos os mercados emergentes são iguais

Em 2008, as emoções terão sido o principal determinante dos preços de mercado. O enorme processo de desalavancagem (venda de activos financeiros para liquidação de operações de crédito) gerou anomalias significativas ao nível dos preços e poderá ter criado raras oportunidades de investimento de longo prazo.
Ao longo do ano de 2009, os preços dos activos financeiros (em particular os das acções e das obrigações de empresas) poderão basear-se menos em sentimento e vendas forçadas, e mais em dados fundamentais como os resultados, os dividendos, o valor contabilístico, ou os níveis de incumprimento das empresas.


3. Obrigações corporate

Bill Gross, um dos maiores especialistas mundiais em obrigações, tem afirmado repetidamente que “as acções estão valorizadas para um cenário de Recessão e as obrigações corporate para um cenário de Depressão”.
É relativamente consensual que, aos preços actuais no mercado de obrigações de empresas, os investidores antecipam uma recessão económica mais profunda do que a Grande Depressão dos anos 30. As obrigações corporate terão sido as principais vítimas do processo de desalavancagem dos hedge funds (que ainda não terá terminado, aliás), atendendo à falta de liquidez destes mercados.
Aos preços actuais, a diferença (spread) entre a rendibilidade até à maturidade (yield) das obrigações corporate de bom risco e da dívida pública de prazo equivalente é de 5,75% nos EUA e 4,53% na Zona Euro, largamente acima da média histórica de 1,50% e 0,88%, respectivamente. As obrigações high yield, de risco superior, apresentam um spread de quase 20%, em ambos os lados do Atlântico!
Ao contrário das acções, cujo valor depende da expectativa de crescimento dos resultados futuros (que ainda é negativa em 2009), no segmento de obrigações corporate a única questão chave é saber se as empresas irão sobreviver até à maturidade da sua dívida (geralmente de curto e médio prazo), em condições de reembolsarem o capital e pagarem os juros. Note-se que em caso de falência, o detentor das obrigações encontra-se à frente dos accionistas na hierarquia da liquidação da empresa.
A acreditar que as medidas de política económica produzirão efeitos positivos, evitando um cenário de depressão e deflação, as yields actualmente disponíveis nos mercados de crédito, em muitos casos de dois dígitos, parecem representar uma boa oportunidade de investimento.
Também as obrigações indexadas à inflação (inflation linked), que incorporam actualmente um cenário de deflação, poderão ser uma boa oportunidade de investimento no caso de ser evitado este cenário.


4. Nem todos os mercados emergentes são iguais


Depois de se mostrarem muito resilientes nos primeiros meses de 2008, os mercados accionistas emergentes acumularam perdas de superiores a 50% entre Maio e Outubro, num contexto de forte quebra dos preços das matérias-primas, de agravamento da crise económica global e sobretudo de extrema aversão ao risco e de fuga dos investidores estrangeiros. Esta quebra foi relativamente indiferenciada.
Contudo, nem todos os países emergentes entraram para esta crise com as mesmas armas. 2009 poderá ser o ano em que os investidores irão "separar o trigo do joio":
- regressando aos mercados mais resilientes (como parece ser o caso do Brasil, pouco dependente de exportações, com baixo endividamento e um Banco Central credível; ou da China, que poderá beneficiar do baixo preço das matérias-primas, do enorme pacote de estímulo económico já anunciado, ou do facto das suas exportações serem compostas por produtos de baixo custo);
- continuando a penalizar os mercados mais frágeis, cujo crescimento era muito dependente de financiamento externo, como acontecia em muitos países da Europa de Leste.
Para determinar os “vencedores” em 2009 é fundamental acompanhar também a evolução do preço das matérias-primas, que em 2008 registaram a maior quebra (36%) dos últimos 50 anos, segundo o índice Reuters/Jefferies CRB.
A Agência Internacional de Energia estima uma contracção de 450 mil barris por dia no consumo de petróleo em 2009, com um preço médio de 51 dólares. Para estancar a forte quebra no preço do “ouro negro” nos últimos meses, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que controla 40% da produção mundial, já reduziu a sua produção diária em cerca de 15% desde Setembro.

Sectores chave na evolução da crise económica
Imobiliário
Automóvel

Se todas as atenções estiveram concentradas no sector financeiro em 2008, no ano que agora se inicia outros 2 sectores serão decisivos para a evolução da crise económica: o imobiliário e o automóvel.


5. O fim da quebra de preços no imobiliário?


A actual crise económica começou por ser uma crise financeira, com origem na quebra de preços do mercado imobiliário norte-americano (e agravada por práticas negligentes na concessão de crédito). Parece lógico assumir que o factor que esteve na origem da crise também poderá ajudar ao seu fim.
A eventual interrupção do ciclo de quebras de preços no mercado imobiliário em 2009 seria importante para estabilizar as estimativas de perdas do sector financeiro com a actual crise, aumentando a liquidez (e eventualmente o preço) dos denominados "activos tóxicos" que ainda continuam a fragilizar o balanço de muitas instituições financeiras, melhorando também a vontade e capacidade destas em retomarem uma actividade creditícia normal.


6. A sobrevivência da indústria automóvel


A indústria automóvel foi uma das vítimas mais notórias da forte quebra de confiança dos consumidores, acentuada a partir de Setembro de 2008. As vendas nos EUA caíram 36% em Dezembro e na Europa 26% em Novembro, em ambos os casos a maior quebra mensal da última década, mesmo num cenário de descida do preço dos combustíveis.
A Toyota, maior construtor japonês, que nunca registou prejuízos na sua história de 70 anos, anunciou recentemente que prevê o seu primeiro resultado anual negativo. Os automóveis são o bem de consumo mais caro, logo aquele cuja compra é mais fácil de adiar quando não existe confiança no futuro da economia.
Ainda que não seja tão decisiva para a estabilidade económica como o sector financeiro (havendo por isso menos disponibilidade das autoridades públicas para a apoiar), a indústria automóvel tem um peso significativo no emprego das principais economias mundiais, tanto por via directa como indirecta (fornecedores). As duas principais empresas exportadoras de Portugal (Qimonda e Auto Europa) dependem, no todo ou em parte significativa, da saúde desta indústria.
Na sua primeira conferência de imprensa como Presidente eleito dos EUA, Barrack Obama qualificou o sector automóvel como a coluna vertebral da indústria norte-americana, defendendo a aprovação de um pacote de ajudas de 17,5 mil milhões de dólares a 2 dos maiores construtores do país: General Motors e Chrysler.
Uma análise recente do Deutsche Bank concluiu que o processo de reestruturação associado à eventual falência dos “Big 3” (que inclui também a Ford) implicaria o corte da produção automóvel para metade, o que teria um impacto directo de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) e implicaria a perda de 2,5 a 3 milhões de empregos directos e indirectos nos EUA.
Assim, será importante acompanhar a evolução desta indústria ao longo de 2009, em particular qual o nível de apoios públicos disponibilizados para evitar a falência de alguns dos principais construtores mundiais (nomeadamente nos EUA) que, doutra forma, parece inevitável.

O factor mais crucial em 2009: a confiança


7. O regresso da confiança?

Deixámos para último o factor que nos parece mais importante para o desfecho final do ano de 2009: em que medida a actual falta de confiança pode ser ultrapassada.
- a falta de confiança (dos particulares e das empresas) tornará mais provável o temível cenário de deflação, que poderá transformar a recessão em depressão;
- a falta de confiança retirará força às medidas sem precedentes tomadas pelas autoridades no estímulo da economia, já que todo o rendimento disponível adicional será poupado e não consumido ou investido;
- a falta de confiança fará com que os Bancos depositem toda a liquidez adicional no Banco Central, não chegando às famílias e empresas através do mecanismo de transmissão do crédito.
Neste sentido, será muito importante acompanhar os principais inquéritos à confiança dos consumidores e dos empresários, na medida em que estes são bons indicadores avançados do nível de crescimento económico, da mesma forma que as cotações no mercado accionista.

Em conclusão

A recente evolução dos mercados financeiros fez desviar de forma significativa as rendibilidades das principais classes de activos das suas médias de longo prazo. Na última década, em particular, os activos de menor risco, como as obrigações do Tesouro, obtiveram retornos claramente superiores à média, enquanto os activos de maior risco, como as acções e as obrigações de empresas, registaram retornos reais nulos ou mesmo negativos.
Se acreditarmos num processo de reversão para a média, 2009 poderá representar o início de um novo ciclo de mercado, em que os activos de maior risco poderão retomar progressivamente o seu lugar natural no topo da escala de rendibilidades, ainda que o momento exacto de inflexão seja muito difícil de determinar.
É verdade que o caminho está repleto de desafios. Ainda não existe confiança. A presente conjuntura de mercado representa um significativo teste aos nervos, paciência e disciplina dos investidores. Mas, com frequência, as melhores oportunidades surgem nas conjunturas mais adversas.

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