sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Caso Freeport

In "Jornal de Negócios":

Um país louco

 

Que Portugal por vezes enlouquece já todos o sabemos. Mas que o faça com tanta frequência e nos momentos em que mais seria de esperar alguma racionalidade e bom senso é o que já não pode deixar de suscitar alguma perplexidade. Por estes dias, em que uma profunda crise económica avassala o planeta e portanto o nosso cantinho também,...

Por estes dias, em que uma profunda crise económica avassala o planeta e portanto o nosso cantinho também, o País envolve-se numa historieta requentada a propósito de um empreendimento comercial. E, como sempre nestes casos, depressa deixou de haver notícia para passar a dominar a histeria e a barafunda.


Assim, sem perder muito tempo com este assunto sórdido, gostaria tão-só de deixar dois comentários. O primeiro diz respeito à síndrome "Watergate" que parece afectar alguns dos nossos jornalistas. Existe a ideia de que deitar abaixo um governante, e quanto mais importante melhor, representa o máximo da demonstração do poder do jornalismo e da excelência da profissão. Assim, nalgumas destas cabeças passam frequentemente imagens ao estilo cinematográfico de Hollywood, em que a investigação se torna numa aventura e a descoberta de coisas risíveis se transformam num grande momento dramático. Desta vez o alvo é o primeiro-ministro, o que seguramente excita acima do normal muita redacção e a clientela de uns quantos bares de Lisboa. Em consequência os atropelos sucedem-se. Perseguem-se testemunhas, conseguem-se declarações de forma insidiosa ou mesmo ilegal contra a vontade expressa dos próprios, manipula-se a informação para além do já habitual. A baixeza dos métodos chega ao nível da sarjeta.


Esta gente esquece contudo a realidade dos factos. Quem deitou abaixo Nixon não foram os jornalistas, mas sim o próprio núcleo duro do poder, através da acção de um alto dirigente do FBI que de facto conduziu as operações. Os jornalistas nunca passaram de emissários úteis e totalmente manipulados.


Ora isto introduz o segundo comentário e aquele que me parece ser a única questão realmente relevante desta história do Freeport. Na nossa polícia ou no Ministério Público existe gente que sistematicamente quebra as regras do segredo de justiça fornecendo aos jornalistas pistas, informações e documentos restritos. Basta ver como nas televisões e nos jornais se exibem cópias de documentos apreendidos, cuja proveniência só pode vir da investigação. Basta pensar como uma carta enviada pela polícia inglesa para a polícia portuguesa vai parar às redacções dos jornais sem que isso parece preocupar ninguém.


Que a Procuradoria da República não se impressione com esta realidade, que o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, sempre muito ofendido com a mínima crítica, não se perturbe com a evidência de tão flagrantes faltas da sua corporação, eis o que devia suscitar um debate alargado e a indignação dos cidadãos.


A acrescentar à morosidade da justiça e à incongruência das suas decisões em casos reais, existe hoje um legítimo descrédito sobre a integridade da condução das investigações. São demasiado frequentes os atropelos à presunção da inocência, à devassa da vida privada, à manipulação da opinião pública. E isto sim, devia preocupar o sistema, desde os próprios agentes à classe política, passando naturalmente pelo comum do cidadão.


O próprio Partido Socialista, perante mais este ataque raivoso contra o primeiro-ministro – como lhe chamou e bem Freitas do Amaral –, não soube responder à altura refugiando-se em desculpas de pormenor sem ir direito ao assunto. Não são os procedimentos que estão em causa, já que isso diz respeito, no pior dos casos, a questões administrativas. Mas sim o facto de com toda a impunidade, nas televisões e nalguma imprensa, se insinuar que o então ministro José Sócrates marcou uma reunião no ministério, com um desconhecido, para combinar o pagamento de luvas. É preciso topete, para continuar a citar Freitas do Amaral.


Definitivamente o país ensandeceu. E na pior altura. Quando seria preciso um impulso energético, positividade e espírito de iniciativa, tudo o que se vê é o habitual queixume, o ódio, a intriga e um negativismo fomentado pelos principais agentes sociais e partidários. Assim Portugal não vai lá

 

Ver:

Em defesa da defesa de Sócrates:

... Se o processo está descontrolado, a manipulação parece controlada. O primeiro-ministro pode sair mal ou, até, sair vítima deste processo. Mas pisa terreno minado. Como disse César, que tinha uma mulher que tinha de parecer o que era, "é impossível não acabar sendo como os outros acreditam que você é".

Estratégia manhosa:

... Bem, que mais terão para lançar nos jornais depois de todas as manobras falhadas? Esta é a dúvida e uma pista para a resposta está na estratégia já ensaiada e que vai tendo eco nalguns blogues e mesmo na boca de Miguel Sousa Tavares, agora há que tentar afastar a procuradora encarregue do processo? A verdade é que essa procuradora tem vários processos importantes, como o BPN ou a Operação Furacão, e parece que a sua equipa não está feita com fugas ao segredo de justiça, daqueles processo nada transpirou para a comunicação social.

Não é difícil de adivinhar que agora vão tentar afastar a procuradora, o ideal seria a investigação ser feita com o objectivo de obter novos elementos para mandar para os jornais de forma a esvaziar a justiça e fazer um julgamento público, ainda antes das eleições, de ser feita qualquer acusação e da intervenção de qualquer tribunal. É Assim a justiça dos fascistas, ainda sem qualquer acusação, sem que alguém tenha sido constituído arguido reuniu-se um tribunal plenário onde alguns jornalistas decidiram fazer o papel de juízes dos tribunais plenários dos fascistas. Com uma pequena diferença, quem lhes leu a acusação nem teve a coragem de dar a cara como faziam os agentes da Pide, estes são ainda mais cobardes.

O mais grave é que vejo por aí muita gente que é democrata e que a troca de poder chegar ao poder se esquecem dos princípios e alinham na encenação.

 

Ex-director da Judiciária demitido por este Governo diz ter dado prioridade à investigação do caso Freeport

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Sem comentários:

 
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