sexta-feira, 6 de novembro de 2009

10 coisas que deve saber antes de investir em acções

In "Jornal de Negócios Online":

A crise financeira mostrou que o jogo da bolsa tem regras apertadas. Saiba quais são as mais importantes para não voltar a cair no buraco

A grande depressão do século XXI - que arrasou os portefólios accionistas da maioria dos investidores - clarificou que a economia e a bolsa se movem por ciclos, mais ou menos longos. A seguir à fartura vem sempre uma crise, que é sucedida por mais fartura. À medida que a história avança, as regras que os investidores devem seguir consolidam-se. Conheça as dez mais importantes para que não leve as mãos à cabeça da próxima vez que as acções se desvalorizarem 50% em menos de um ano.


1. São as acções que o vão tornar milionário (se não lhe sair o Euromilhões antes)
Até se percebe se já estiver a torcer o nariz: "As acções foram a classe de activos com o pior desempenho desde 1997", indicou, no início do ano, Tim Bond, responsável pela gestão de activos do Barclays, no último "Equity Gilt Study", uma publicação anual elaborada desde 1956. Todavia, é preciso não esquecer a capacidade das acções a que os estatísticos gostam de chamar de "reversão para a média". No longo prazo, os mercados accionistas teimam em ganhar 5,2 por cento acima da inflação, segundo um estudo da London Business School, que analisou 109 anos de bolsa de 17 países do mundo. Isso quer dizer que, poupando 865 euros por mês, consegue acumular um milhão de euros (a preços de hoje) ao fim de 35 anos. Graças à reversão para a média de longo prazo, Tim Bond acredita que, na próxima década, as acções vão render (o que inclui o reinvestimento de dividendos) 12 por cento por ano. Se ele tiver razão, os investidores conseguirão multiplicar o património por mais de três em 10 anos.


2. Não seja ovelha
Foi Peter Lynch, o "guru" de "Wall Street", que o disse: se não consegue explicar como a empresa ganha dinheiro em meia dúzia de rabiscos, não invista nela. A maioria dos investidores são levados pelos seus alter-egos de ovelha e vão atrás do rebanho, a maior parte das vezes sem perceber no que estão a apostar. Mesmo que o seu gestor de conta, o seu corretor, os seus amigos e os seus familiares lhe ofereçam uma dica de uma acção que vai ficar muito "quente", se não perceber (e concordar) por que é que poderá aquecer, não invista na empresa. As firmas de electrónica que apareceram após o lançamento do Sputnik, as companhias "ponto-com" que floresceram no virar do milénio e, mais recentemente, os bancos que explodiram com produtos complexos que ninguém compreendia (e poucos compreendem hoje) são só exemplos que conduziram milhares de cabeças de ovelhas para o precipício, como se fossem lemingues.


3. Tem dúvidas, fuja para os fundos
Comprar acções directamente não é para todos. A volatilidade dos mercados não é propícia aos investidores que sejam cardíacos ou que tenham crises de ansiedade. Os efeitos podem ser vastos: vício, maus hábitos alimentares, hipertensão, stresse e isolamento social são só alguns. Além disso, para os pequenos investidores, o impacto no bolso pode ser pesado, mesmo que não registem desvalorizações nas carteiras. É que, transaccionar acções comporta vários custos, em resultado das comissões de compra e venda, de guarda de títulos, de pagamentos de dividendos e dos impostos associados. Por isso, não é recomendável que invista directamente em acções se: a) o seu médico não o aconselhar; e, b) tem menos de 25 mil euros, porque não consegue diluir os custos.
Se quer estar exposto ao mercado, mas sem negociar títulos, compre fundos de acções: são baratos, geridos por profissionais, rápidos de movimentar e diversificados. A oferta é muita, mas concentre-se nos que interessam. Entre os portugueses, a Morningstar, uma firma de avaliação de fundos, prefere o BPI Europa Crescimento, o BPI Reestruturações, o BPN Acções Europa, o Raiz Poupança Acções e o Santander Euro-Futuro Acções Defensivo.


4. Não ponha os ovos todos no mesmo cesto
Esta dica é mais antiga que a Carochinha: é muito arriscado investir numa só acção. Imagine que, há um ano, estava indeciso entre comprar acções da Sonae SGPS, a dona dos hipermercados Continente e dos supermercados Modelo, ou da Alcoa, a maior produtora de alumínio dos EUA. Se tivesse apostado na Sonae teria ganho 60% sobre o seu investimento. Se se tivesse inclinado para a Alcoa, o seu portefólio estaria agora pela metade. Se tivesse investido nas duas, o seu ganho seria uns gratificantes 10%. Ao diversificar os investimentos, se um deles correr mal, o impacto na carteira é reduzido. O mal fica espalhado pelas aldeias.
Os académicos dizem que oito acções já permitem um bom nível de diversificação (desde que não sejam do mesmo sector). A diversificação é especialmente importante em épocas de crise financeira, embora Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, defenda que a diversificação é uma medida para combater a própria estupidez. Na verdade, o "guru" da bolsa tem algumas dezenas de acções na sociedade de investimento que lidera.


5. Uma carteira só de acções em exclusivo para os recém-nascidos
A porção do seu portefólio que deve estar exposto ao mercado accionista depende muito do perfil de risco, do prazo em que necessitará do capital e da dimensão da carteira. Contudo, há uma regra que pode usar como indicativa: no máximo, tenha uma percentagem igual a 100 menos a sua idade. Portanto, um investidor de 30 anos pode ter até 70% em acções, mas um reformado de 65 anos só deve ter, no limite, 35% da carteira no mercado accionista. Só os bebés é que devem ter o portefólio quase todo na bolsa. A prudência diz que não deve ter acções se faltar menos de cinco anos para a data em que necessitará de mexer no dinheiro. O ideal é retirar o capital da bolsa progressivamente ao longo de 10 anos.


6. Seja maluco q.b.
Qualquer investidor chega a uma fase da vida em que quer arriscar. Embora, em alguns casos, possa coincidir com a crise da meia-idade, os investigadores mostram que o apetite pelo risco aumenta quando a bolsa está a subir, algum tempo depois de sair da crise. Por isso, prepare-se, porque, dentro de alguns meses, pode começar a salivar com os ganhos que os seus amigos dizem que atingiram. Não há qualquer problema no risco, desde que o limite. Crie uma conta à parte para os seus impulsos menos justificados com 10% do seu portefólio - no máximo. Deixe à mão os antidepressivos para o caso de perder demasiado e os ansiolíticos para o caso de ganhar muito, porque terá ansiedade de investir mais dinheiro na próxima operação de bolsa.


7. Leia as instruções antes de usar
As notícias do dia-a-dia das suas empresas são fundamentais para se manter a par das novidades que afectam o seu bolso, mas há uma leitura tão importante que é negligenciada por muitos investidores: os relatórios das contas, que podem ser obtidos gratuitamente nos sítios de Internet das companhias. Normalmente, são grandes documentos (pelo menos os anuais), mas não se assuste. Num capítulo introdutório, o presidente da empresa escreve uma carta em que conta o que aconteceu no ano, os altos e baixos (quase sempre, os altos são mais que os baixos) e dá alguma "graxa" aos clientes, trabalhadores, credores, fornecedores e accionistas. De seguida, ele e os restantes administradores sintetizam a actividade, com comentários ao ambiente macroeconómico, aos vários segmentos do negócio, à "performance" financeira e das acções na bolsa e à gestão da sociedade, acabando com mais alguma "graxa".
Depois, surgem os quadros. O balanço é sempre o primeiro e resume a situação patrimonial da empresa no final do período. Do lado esquerdo está o que a empresa tem (os activos) e do lado direito o que a empresa deve (capital próprio e passivo). A demonstração de resultados, o quadro seguinte, compila todos os fluxos de dinheiro efectuados no ano. Em cima, estão os custos e perdas e, em baixo, os proveitos e ganhos. A diferença é o lucro ou prejuízo da empresa. Muitos dos elementos do balanço e da demonstração de resultados têm uma nota de rodapé, que pormenoriza a informação no anexo às demonstrações financeiras. Os revisores oficiais de contas finalizam o relatório dando a sua opinião (que nem sempre é favorável).

8. Os câmbios comem-lhe os ganhos (ou os prejuízos)
Se, em Março, tivesse comprado uma acção da farmacêutica norte-americana Pfizer, teria gasto cerca de 14,50 dólares, o que, ao câmbio da altura, representaria uma aplicação de cerca 11,27 euros. Em meados de Setembro, essa acção valia 16,36 dólares, uma valorização de 12,52%. Contudo, o câmbio euro-dólar teve um movimento desfavorável de cerca de 12 por cento, pelo que, após contabilizá-lo, o investimento em euros na Pfizer teve um resultado praticamente nulo. A aposta seria boa, se não fosse o movimento cambial. Em épocas de crise económica, a atenção aos câmbios deve ser redobrada, porque eles tendem a mexer-se com mais intensidade.

9. Qual é o segredo de Buffett?
Warren Buffett é o mago da infinita paciência, o rei do investimento de longo prazo e o marajá das décadas bolsistas. "O meu período de investimento preferido é para sempre", disse o "guru". Só assim se consegue ganhar anualmente 20,3%, como ele fez entre 1964 e 2008 através da Berkshire Hathaway, a sociedade de investimento que lidera. Mesmo nos anos mais difíceis, como 2008, nunca apresentou desvalorizações de dois dígitos. Salvo raras excepções, ele adquire acções para não as vender, o que pode parecer estranho para os investidores que têm o dedo rápido no gatilho das ordens de bolsa. Começou a comprar títulos da Coca-Cola em 1988 e, três anos depois, a sua participação já valia mais do que a capitalização bolsista da Berkshire antes de começar a fazer as compras. Hoje, é o maior accionista do famoso fabricante de refrigerantes. Uma das suas participações mais antigas é o jornal "Washington Post": começou a comprar em 1973.


10. Deixe as emoções na cama
As acções podem torná-lo num milionário, mas não corra o risco de se apaixonar. Seja frio, distanciando-se sempre que tiver de tomar uma decisão financeira. Muitos compraram acções do Banco Comercial Português perto ou acima dos quatro euros e não as vendem hoje porque isso representaria uma perda de 75%. Se encontrar uma aplicação que acredita que dará mais no seu prazo desejado, não é lógico que deve vender os títulos do banco, aguentar a perda e ganhar mais com o outro investimento? Não seja tolo: guarde as emoções para quem aprecia.

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