sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A próxima Revolução Industrial

In "Jornal de Negócios Online":

Um novo acordo global para enfrentar as alterações climáticas não será positivo apenas para os negócios. É também crucial para que a economia global alcance um crescimento sustentável.
À medida que nos aproximamos da Cimeira da ONU sobre as Alterações Climáticas, este mês em Copenhaga, grande parte do debate tem estado focalizado nos supostos conflitos de interesses entre as grandes empresas e o clima. Este argumento baseia-se na ideia de que as empresas não gostam de mudanças, particularmente as mudanças geradas por regulação ou políticas governamentais.


Trata-se de um grave erro de concepção e é uma ideia que também subestima a gravidade das opções com que nos deparamos enquanto empresários e cidadãos.


Na realidade, as empresas prosperam com as mudanças. As grandes empresas de hoje já foram constituídas por apenas algumas pessoas que viram surgir uma oportunidade, perspectivas de uma nova procura que iria aumentar, uma mudança que tornou possível criar algo de novo.


As novas tecnologias, desde o motor de combustão interna até aos microprocessadores, criaram novas oportunidades. Algumas destas oportunidades foram estimuladas pela procura, como foi o caso da produção de alimentos, e muitas das mais revolucionárias foram sustentadas por políticas governamentais bem concebidas, tal como a construção de auto-estradas e o rápido desenvolvimento da telefonia móvel. Quando estas três forças se aliam, as mudanças em matéria económica aceleram, tal como o crescimento da economia e a criação de riqueza.


Uma mudança importante na economia requer a presença dessas três forças. A revolução agrícola, a revolução industrial e a revolução tecnológica constituíram enormes oportunidades e o governo desempenhou um papel-chave em todas elas, ao reagir rapidamente no sentido de criar estruturas políticas de apoio a essas mudanças.


A revolução das baixas emissões de carbono (a revolução verde) será a próxima. Estão já a surgir novas empresas, um pouco por todo o mundo, dedicadas a oferecer soluções que permitam limitar ao máximo a poluição gerada pela geração e utilização da energia em todos os domínios, desde as lâmpadas aos transportes. No entanto, estas empresas pioneiras encontram-se ainda numa fase exploratória.


Para se ser convincente e atingir a escala de investimento necessária a uma mudança significativa na nossa orientação económica, o mundo dos negócios deve estar ciente do empenho em prol desta causa por parte dos líderes políticos, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Qualquer tipo de inacção ou prorrogação serão desastrosos para o clima, mas serão ainda mais desastrosos para a economia.


Com um claro compromisso para com a revolução industrial das baixas emissões de carbono, as empresas de todo o mundo, pequenas ou grandes, podem competir com confiança, investir com certeza e impulsionar a escala e inovação necessárias para se proceder às mudanças que é necessário operar. O resultado será a criação de empregos, oportunidades de investimento e de uma nova direcção para a indústria.


Este esforço requer um investimento substancial, grande parte do qual direccionado para o desenvolvimento de infra-estruturas no mundo desenvolvido e em desenvolvimento. Isso implica, fundamentalmente, modificar a forma como investimos, bem como as orientações económicas, para que possamos crescer sustentadamente no caminho do compromisso das baixas emissões de carbono.


A título de exemplo, nos Estados Unidos, as medidas de eficiência energética podem, só por si, poupar mais de um bilião de dólares, ao mesmo tempo que impulsionam a criação de empregos e o crescimento no curto prazo, contribuindo para a retoma económica e providenciando o estímulo económico necessário para acelerar o investimento na produção e utilização de energia com baixas emissões de carbono.


Especificamente, um acordo global em Copenhaga pode oferecer três coisas às empresas:
1. Um claro compromisso perante as metas de redução das emissões poluentes no mundo desenvolvido e em desenvolvimento, de forma a incentivar os investimentos tecnológicos e as medidas de eficiência energética.
2. Um claro compromisso no sentido de fixar um preço global para o carbono, que permita às empresas investirem com confiança e à escala necessária.
3. Um acordo que apoia, através de um misto de financiamento público e privado, as infra-estruturas necessárias para se transitar para uma economia com baixas emissões de carbono.


Se um acordo global em Copenhaga contemplar estes três princípios simples, poderá ser o ponto de partida para uma nova revolução industrial, a revolução das baixas emissões de carbono, o que dará origem a um crescimento significativo, à criação de empregos e ao desenvolvimento económico em todo o mundo.


Neste período de turbulência financeira, um acordo global em Copenhaga implica que os responsáveis do planeta se unam para transmitir uma mensagem forte e clara às empresas: sigam o caminho das baixas emissões de carbono e nós iremos apoiar-vos ao longo de todo esse percurso.


© Project Syndicate, 2009.
www.project-syndicate.org
Tradução: Carla Pedro

Lars G. Josefsson, presidente e CEO da Vattenfall, quinta maior produtora europeia de electricidade, é membro do grupo de conselheiros sobre energia e clima do Secretariado-geral da ONU; Jamshyd N. Godrej é "chairman" da Godrej & Boyce Mfg. Co. Ltd, uma das maiores empresas indianas de engenharia e de consumíveis, e já foi presidente da Confederação da Indústria Indianay; Peter A. Darbee é "chairman", CEO e presidente da PG&E Corporation; Steve Holliday é director-executivo da National Grid, que detém a rede de transmissão de electricidade de alta voltagem em Inglaterra e no País de Gales, operando também o sistema em toda a Grã-Bretanha.

Sem comentários:

 
View My Stats