sábado, 16 de abril de 2011

Bancos portugueses precisam de 37 mil milhões em três anos

In "Sol":

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Os bancos portugueses estão em contra-relógio. Além de estarem sob pressão para darem provas acrescidas da sua robustez num curto espaço de tempo, as instituições financeiras lusas continuam a braços com problemas de liquidez. Para conseguir satisfazer as suas necessidades de (re)financiamento, o sistema financeiro português precisa de quase 37 mil milhões de euros nos próximos três anos.

Apenas este ano, a banca portuguesa terá de conseguir levantar perto de 13,5 mil milhões, segundo as estimativas do Royal Bank of Scotland (RBS). Só os três maiores bancos cotados na Bolsa de Lisboa (BCP, BES e BPI) têm de arranjar fundos na ordem dos 5,3 mil milhões de euros em 2011, sendo o BCP a instituição mais pressionada nos três anos (ver tabela). «Não são grandes volumes, mas com zero de acesso ao mercado primário, como acontece actualmente, estes valores são uma montanha», diz Christy Hajiloizou, analista do RBS.

É neste contexto que a responsável antecipa que o resgate soberano de Portugal venha a resultar numa intervenção na banca. «A assistência mais provável pode ser uma solução de aumentar os prazos de financiamento com o objectivo de reduzir a dependência do Banco Central Europeu (BCE)», prevê a analista.

Assumindo que os mercados interbancário e obrigacionista continuam quase fechados, a bóia do BCE (que tem sido a tábua de salvação de Portugal nos últimos dois anos) está a esvaziar-se e a pressão negativa das agências de rating é «dolorosa», os banqueiros ouvidos pelo SOL insistem em garantir que o sistema financeiro português continua sólido.

«Portugal não é a Irlanda e os bancos portugueses não são os irlandeses», garante um dos responsáveis de um grande banco português. «Apesar da fraca rentabilidade no mercado doméstico, os balanços dos bancos nacionais, sobretudo no que se refere à qualidade dos activos e à cobertura de empréstimos de risco, não estão em má forma», realça outro banqueiro.

Mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) tem os bancos portugueses sob alerta, devido à sua exposição à dívida pública e aos elevados custos de financiamento do mercado.

Dificuldades extra

A verdade é que o sector financeiro depara-se agora com dificuldades acrescidas: capitalização e desalavancagem. Os testes de stresse à banca europeia - que, por cá, visam BCP, BPI, CGD e ESFG (que detém o BES) -, mais agressivos do que os anteriores, estão prestes a começar (os resultados serão conhecidos em meados de Junho) e poderão acontecer num momento em que ainda não esteja definido se os bancos vão ou não receber ajuda do Estado, no âmbito da intervenção externa de que Portugal está a ser alvo.

O Banco de Portugal (BdP) definiu que, até ao final de 2011, os bancos têm de ter um rácio mínimo de capital (Core Tier I) de 8%. Para isso, os bancos estão a reter dividendos e a fazer aumentos de capital.

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, veio esta semana dizer que o Estado está disponível para injectar capital nas instituições financeiras, mas a banca privada diz não estar interessada e que «fará tudo [vender créditos e activos] para evitar o apoio estatal, mesmo que a exigência de capital suba», segundo noticiava o Jornal de Negócios de ontem.

Uma das prioridades é diminuir o rácio de transformação (peso do crédito nos depósitos), de maneira a aumentar indirectamente as fontes de financiamento e diminuir o risco. O objectivo é chegar a uma média entre 110% e 120% até 2014.

Mas está a ser complicado. Apesar dos esforços extra que as instituições estão a fazer para captar mais depósitos, as poupanças dos portugueses - com menor rendimento disponível devido ao desemprego e às medidas de austeridade - continuam em queda. O indicador de poupança, elaborado pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) e pela Universidade Católica, revelado esta semana, mostra que a poupança dos portugueses está a cair pelo quinto mês consecutivo.

Perante isto, os bancos alegam que não lhes resta outra solução se não cortar na concessão de crédito às famílias, empresas e Estado, afectando assim o funcionamento da economia.

Até ao final deste mês, os bancos têm de apresentar os seus planos individuais ao BdP, com calendários e metas para a dimensão e composição dos seus balanços, estrutura de capital e eficiência operacional, como previa o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC IV), chumbado no Parlamento.

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