sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crimes económicos da Wall Street contra a humanidade

In “resistir.info”:

De acordo com o Tribunal Penal Internacional, crime contra a humanidade é "qualquer acto que cause grave sofrimento ou atente contra a saúde mental ou física de quem o sofre, cometido como parte de um ataque generalizado ou sistemático contra uma população civil". Desde a Segunda Guerra Mundial que nos familiarizamos com este conceito e com a ideia de que, não importa qual foi a sua dimensão, é possível e obrigatório investigar esses crimes e fazer pagar os culpados.


Situações como as que geraram a crise económica levaram a que se comece a falar de crimes económicos contra a humanidade. O conceito não é novo. Já em 1950 o economista neoclássico e prémio Nobel Gary Becker apresentou a "teoria do crime" ao nível microeconómico. A probabilidade de que um indivíduo cometa um crime depende, para Becker, do risco assumido, do espólio potencial e da possível punição. A nível macroeconómico, o conceito foi usado em discussões sobre as políticas de ajuste estrutural promovidas pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, durante os anos oitenta e noventa, que tiveram gravíssimos custos sociais para as populações na África, América Latina, Ásia (durante a crise asiática de 1997-98) e Europa de Leste. Muitos analistas apontaram estes organismos, as políticas que patrocinaram e os economistas que as conceberam como responsáveis, especialmente o FMI, que foi muito criticado após a crise asiática.


Hoje são os países ocidentais, os que sofrem os custos sociais da crise financeira e de emprego, e dos planos de austeridade que supostamente estão contra ela. A perda dos direitos fundamentais, tais como habitação, emprego e o sofrimento de milhões de famílias que vêem em perigo a sua sobrevivência, são exemplos dos custos assustadores desta crise. Famílias que vivem na pobreza estão crescendo sem parar. Mas quem são os responsáveis? Os mercados, lemos e ouvimos todos os dias.


Num artigo publicado na Business Week em 20 de Março de 2009 sob o título "Crimes económicos da Wall Street contra a humanidade ", Shoshana Zuboff, ex-professor da Harvard Business School, argumenta que o facto de os responsáveis pela crise negarem as consequências das suas acções demonstra "a banalidade do mal" e o "narcisismo institucionalizado" nas nossas sociedades. É uma demonstração da falta de responsabilidade e de "distanciamento emocional" dos que acumularam somas milionárias e agora negam qualquer ligação com o dano provocado. Culpar apenas o sistema não é aceitável, argumentava Zuboff, tal como não teria sido acusar dos crimes nazis apenas as ideias, e não quem os cometeu.

Ver:

O país das oportunidades perdidas:

O país foi desindustrializado e está pior do que em 1975. Sectores inteiros da economia nacional foram destruídos e nada veio substituí-los. A estagnação perdura há mais de dez anos. O desemprego é avassalador, a juventude não tem perspectivas, a auto-suficiência alimentar foi eliminada (hoje Portugal importa 70% dos cereais que consome), instituições científicas nacionais foram desmanteladas, o aparelho de Estado foi severamente abalado, a economia real definhou.

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No fim de 1974 Portugal tinha uma situação financeira sólida. Em 31/Dezembro/1974 dispunha de 865.936 kg de ouro nas reservas do seu banco central. A dívida externa era insignificante. Hoje, os relatórios anuais do Banco de Portugal já nem se atrevem a informar o peso das reservas-ouro (em grande parte vendidas ou hipotecadas por Vitor Constâncio). Quanto à dívida externa (bruta) , em 31/Dezembro/2010 montava a 396,5 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 229,4% do PIB. Para comparação: a dívida externa bruta da Grécia é de "apenas" 187% do PIB.

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